My hometown glory.

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Boa parte da minha vida foi marcada por um movimento pendular com uma amplitude considerável. Eram de quatro horas em média dentro de um carro diariamente, um estresse semanal e muitas caras feias aturadas. No entanto, ultimamente eu tenho tido a impressão de que na época em que eu morava “no fim do mundo” eu era mais feliz. Não que eu não seja feliz agora, mas era diferente. Era o meu lugar, era onde eu conhecia todos na rua, no shopping, na missa. Era onde eu sabia o nome do padeiro e do cachorro da vizinha, era onde eu tinha vários avós, vários tios, vários primos. Era onde eu tinha várias casas. Era onde eu tinha um terraço só para mim, no qual eu deitava no chão frio e ficava horas olhando o desenho das telhas na madeira que caiam perfeitamente desenhando o estilo colonial. Ah, o cheiro da madeira… Quando chovia esse era o melhor cheiro do mundo. Em Bangu não havia grandes restaurantes, nem grandes shoppings, e nem todas as ruas eram asfaltadas… Exatamente! Muitos paralelepípedos deixaram marcas deliciosas nos meus joelhos, e na minha testa eu tenho até hoje a marca da ardósia quente do chão. Me parece que por lá o conceito de família era algo trabalhado todos os dias, durante o chá da tarde de quinta-feira ou o almoço de domingo. Não é o bairro mais bonito do Rio de Janeiro, e não vou ser hipócrita de dizer que é o melhor, mas é meu lar, meu berço, é onde eu me sinto completa. É onde se vai à padaria com cinco reais e a barriguinha volta repleta de creme de confeiteiro e guaraná. Bangu é minha terra natal, é linda, e para sempre vai ser. Foi lá que eu dei meu primeiro beijo, que eu gostei do primeiro carinha, que eu fiz meus primeiros amigos. Lá eu não sou a vestibulanda, ou a nerd. Lá eu só atendo pelo chamamento “Paulinha”, filha da Dil e do gigante, irmã da mari… É, a Paulinha, aquela que caiu da rede, que passava horas à fio andando de bicicleta, que estourou o joelho duas vezes seguidas em menos de dez minutos no mesmo buraco, a que amava soltar pipa, a que era craque em pular corda. É, Bangu me ensinou a ser feliz..

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